Indígenas de MS fazem passeata pelas ruas e protesto na FUNAI em Campo Grande
Indígenas de MS realizaram nesta quinta-feira, 12, uma passeata pelas ruas da cidade para reivindicar respeito, dignidade e melhor atendimento aos trabalhadores indígenas do Estado.
Publicado: 13 Abril, 2012 - 00h01
Escrito por: Palmir Franco - Assessoria Cut-MS
Indígenas de Campo Grande, Dourados, Anastácio, Aquidauana, Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia e Aral Moreira, das etnias Terena, Guarani, Kadiwéu e Kaiowárealizaram nesta quinta-feira, 12, sob o comando do Coletivo de Trabalhadores Indígenas da CUT-MS, uma passeata pelas ruas da cidade para reivindicar respeito, dignidade, implantação da Convenção 169 da OIT e melhor atendimento aos trabalhadores indígenas de Mato Grosso do Sul.
O ato pacífico percorreu as ruas da cidade e terminou com uma manifestação em frente a FUNAI – Fundação Nacional do Índio, onde cobraram do órgão responsável pela organização dos povos indígenas maior empenho para solucionar os inúmeros problemas que enfrentam as comunidades nas aldeias, especialmente com relação a demarcação das terras, discriminação, assédio moral, práticas antisindicais, trabalho infantil, etc. Outra importante reivindicação foi no sentido de buscar uma melhor remuneração dos salários dos trabalhadores indígenas, pois hoje trabalham em quase todos os setores produtivos do Estado. Na oportunidade líderes e caciques das 4 etnias presentes, discursaram em frente à Funai, reivindicando os diretos que os índios exercem, mas que não são cumpridos.
Outra questão abordada, foi a fiscalização nas grandes indústrias do Estado, onde muitos indígenas são explorados, muitas vezes fazendo até trabalho escravo. Venicio Jorge, representante do CEDIN/MS – Conselho dos Direitos dos Índios, denunciou que em Sidrolândia, município distante 60 km de Campo Grande, no frigorífico que abate aves, 60% dos funcionários são indígenas e recebem em média, R$ 585,00, valor que não chega nem ao salário mínimo e que existem lugares que o pagamento não chega nem a R$ 100,00.
Além do reajuste do salário e da luta pelos seus direitos, os manifestantes exigem da Funai mais credibilidade e presença de representantes nas aldeias indígenas. “Há mais de cinco anos a Funai não aparece na nossa aldeia, estamos completamente abandonados, não temos terra pra plantar, muito menos alguém para nos auxiliar.” – denunciou o líder da aldeia Jaguapiru em Dourados, Leomar Mariano Silva.
Evanildo da Silva, 47, ferroviário, disse que a classe indígena precisa de uma política que possa melhor atender a todos. “Estamos abandonados pela Funai. Queremos um atendimento melhor e o repasse dos subsídios que o Governo nos autoriza, mas que não chegam. Além de melhoria das questões trabalhistas”, destacou.
O indígena José Carlos Pacheco, presidente do primeiro Coletivo de Trabalhadores Indígenas do Brasil, declarou que é urgente uma maior fiscalização por parte da Funai. “Precisamos de uma fiscalização intensa e acima de tudo, permanente. Queremos melhores condições de trabalho em todos os setores em que atuamos, porque hoje fazemos o mesmo trabalho que os brancos, com mesmo nível de escolaridade, mas ainda ganhamos menos. Depois de anos de ilusão, nós indígenas estamos acordando para a realidade. Somos sim muito injustiçados, não recebemos auxilio doença, nossas mulheres não recebem auxilio maternidade, nossas crianças não possuem educação digna, isso precisa melhorar. Ainda bem que todos nós acordamos.” – ressalta Pacheco, lembrando que os indígenas representam cerca de 2% dos trabalhadores com carteira assinada, “algo em torno de 5 ou 6 mil pessoas”.
Além das comunidades indígenas, participaram do ato, representantes da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul); Sinttel-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do MS); Centro de Defesa Indígena Marçal de Souza, CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos); CUT-MS, CEDIN/MS – Conselho dos Direitos dos Índios,Coletivo de Trabalhadores Indígenas e representantes de parlamentares.
Para o presidente da CUT-MS, Jefferson Borges Silveira, é chegado a hora de dar um basta a tanto sofrimento ao povo indígena. “Esta é apenas a primeira das muitas manifestações que a CUT estará organizando, através do Coletivo de Trabalhadores Indígenas para exigir o respeito e a dignidade que os indígenas merecem, seja por sua importância na nossa formação cultural ou pelo papel que desenvolvem atualmente no progresso do nosso Estado e País”, finalizou o presidente, conclamando as lideranças indígenas para a importância da unidade em torno de objetivos comuns, lutando lado a lado para vencer o ostracismo que todos vivem em Mato Grosso do Sul.